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Larissa Almeida
Publicado em 12 de junho de 2025 às 05:00
Cada vez mais casos de mortes repentinas têm vindo à tona e despertado a sensação de que se tem morrido mais por mal súbito. Essa percepção, no entanto, não é isolada. Médicos, especialmente cardiologistas, têm atendido mais pacientes com esse quadro clínico e levantado o alerta quanto a abrangência do problema, que pode afetar pessoas de todas as idades. >
O mal súbito é caracterizado como um evento inesperado que surge acompanhado da perda de consciência. O sintoma mais alarmante, normalmente, é a queda abrupta seguida de desmaio. Antes, pode haver sinais, como dor no peito, falta de ar, dificuldade para falar ou compreender a linguagem, fraqueza, tonturas, palpitações, paralisia do rosto e da perna num dos lados do corpo, perda ou obscurecimento da visão, perda do equilíbrio ou coordenação e dor de cabeça intensa. >
Segundo o médico cardiologista Mário César Santos de Abreu, que é professor de cirurgia cardiovascular na Faculdade de Medicina da Ufba, o número de pacientes com esse tipo de quadro clínico tem crescido nos atendimentos emergenciais e há suspeita de que esses casos não se restrinjam ao Brasil. Ele afirma, contudo, que não é possível precisar o incremento de ocorrências em outros locais ao redor do mundo, o que impede a classificação do problema como pandemia. >
“Apesar da percepção de um aumento generalizado, dados epidemiológicos atuais, tanto no Brasil quanto globalmente, não corroboram a ideia de uma pandemia de mal súbito. O que se observa é um aumento na visibilidade de casos e, em alguns contextos, um leve crescimento atribuído a fatores como obesidade, hipertensão e, mais recentemente, complicações relacionadas à Covid-19", afirma o especialista. >
Quando acometido pelo mal súbito, o paciente pode evoluir para óbito em até 24 horas, embora a morte súbita possa ocorrer minutos após o mal-estar. ados 60 segundos, cada minuto sem adoção de medidas para ressuscitação cardíaca reduzem as chances de recuperação em 10%. >
As doenças isquêmicas do coração são a terceira causa principal de morte na Bahia. Em uma década, 11.998 pessoas morreram de infarto agudo do miocárdio, transtornos de condução e arritmias cardíacas, e outras doenças isquêmicas do coração no estado. Essas três condições são as mais comuns vinculadas a mal súbito, que não tem um identificador próprio para consulta de dados. As informações são do DataSUS, o banco oficial de dados do Ministério da Saúde. Os dados compilados correspondem ao período de abril de 2015 a abril deste ano. >
Quando comparados os anos de 2014 e 2024, as mortes pelas causas acima mencionadas aumentou 22%, saltando de 923 ocorrências para 1.135. Entre os fatores que podem favorecer a ocorrência de mal súbito, estão o estresse, a busca excessiva pelo corpo ideal – que leva, em muitos casos, ao investimento em treinos excessivamente pesados e ao consumo de substâncias químicas, como drogas ilícitas, esteroides e anabolizantes – e o adiamento de condições de saúde de risco, como a hipertensão. >
Dentre esses motivos, o cardiologista destaca como um dos pontos centrais a procura desenfreada pela saúde. “Essa busca tem levado pessoas a usarem uma quantidade grande de hormônios. Pessoas que usam substâncias como trembolona, oxandrolona, estanozolol, dentre outras substâncias que levam as pessoas a ficarem com maior definição e força muscular, podem ter sobrecargas cardíacas se forem istradas doses altas e houver uso descontrolado”, aponta. >
O principal fator de risco, no entanto, são problemas cardiovasculares prévios. “Pode ser um indivíduo que tem uma cardiopatia, que é um coração crescido, que tenha uma insuficiência cardíaca ou que já tenha tido infarto e tenha uma cicatriz no coração. Existem também algumas alterações geneticamente determinadas nos corações que podem estar relacionadas a maior chance de arritmias e, por conseguinte, de um mal súbito”, diz o cardiologista Luiz Ritt. >
Em uma pessoa mais jovem, abaixo dos 35 anos, as causas principais de mortes repentinas são alterações cardíacas geneticamente modificadas, como a cardiomiopatia hipertrófica – doença cardíaca caracterizada pela espessura anormal do músculo cardíaco que podem dificultar o enchimento do coração e a saída do sangue, e gerar arritmias. Outra causa é a miocardite, que é uma inflamação causada por um vírus no coração que pode elevar os riscos de uma arritmia. >
Luiz Ritt acrescenta que, acima dos 35 anos, o infarto do miocárdio – condição que consiste na interrupção do fluxo sanguíneo para uma parte do coração, causando a morte de células do músculo cardíaco – é o principal motivo para a morte súbita. Tanto esse problema cardiovascular como aqueles mais comuns pessoas abaixo dos 35 anos podem ser evitados com acompanhamento médico. >
“Sobretudo para quem vai fazer um exercício de alta intensidade, é importante que faça uma avaliação cardiovascular adequada, com no mínimo uma avaliação clínica, um eletrocardiograma e, se for possível, um ecocardiograma. Quem vai fazer uma atividade leve ou moderada, muito dificilmente vai ter problema, mas deve procurar fazer uma avaliação”, finaliza. >
A reportagem procurou a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) para saber os dados sobre mortes decorrentes de mal súbito na Bahia, mas não obteve retorno no prazo solicitado. O Ministério da Saúde também foi procurado para informar os dados de mortes totais por ano causadas por mal súbito no país, mas também não retornou no prazo estipulado. O espaço segue aberto para ambos. >